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Mostrando postagens de 2017

Em minha Ceia de Natal…

Imaginei que algumas presenças de convidadas e convidados seriam indispensáveis. Certamente nos instigariam a refletir sobre suas ideias entre rodas de conversas. Por lá esteve Caio Fernando Abreu nos lembrando a não desistir de viver plenamente pois viver era, para ele, um constante construir, não derrubar…recomeçar, ainda que dolorosamente… por vezes com perdas. Ao seu lado, estava sentada Elizabeth Bishop nos ensinando a compreender nossas perdas, pois, além de duas cidades lindas, ela perdeu um império, dois rios, e mais um continente. Tudo isso pela liberdade de amar. Também em nome do amor, Oscar Wilde nos provocava em dizer que o este não ousa dizer o nome, enquanto Federico García Lorca dizia que o mais terrível dos sentimentos era o sentimento de ter a esperança perdida. “Há mais do que uma sabedoria, e todas elas são necessárias ao mundo”, comentou Marguerite Yourcenar; para Shakespeare, ser grande, seria abraçar uma grande causa. Jean Genet, à mesa, disse em voz alt

Universidades públicas brasileiras: do que nos acusam?

A semana que se foi marcou, profundamente, o calendário das vidas institucionais das universidades públicas brasileiras pelo abuso de poder e o autoritarismo sem medidas. Quando invadem a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a segunda melhor entre nós, em uma operação batizada de “Esperança Equilibrista”, trata-se de mais que uma provação ao nosso hino da Anistia, entoado pela eterna Elis Regina. É, verdadeiramente, uma afronta às casas que formam mulheres e homens, rumo à construção de um outro país, sem conciliação de classes. Pensei que chorar junto com Marias e Clarices, no solo do Brasil, em irreverência a tantas outras que partiram “num rabo de foguete”, era página virada de um tempo que NUNCA MAIS, deveríamos dizer: “Chora a nossa pátria, mãe gentil”... E como esses fatos nos tem feito chorar. Choramos por que não sabemos do que nos acusam. Do que nos acusam mesmo? De gerenciar com eficiência, as demissões em massa de trabalhadores(as) pais e mães de famílias que vi

Afinal, o que é Ciência?

Muitos conhecem a origem da palavra Ciência, que vem do latim, scientia, e que pode ser traduzida por conhecimento ou sabedoria. Não apenas duplas palavras, sem sentidos societários ou humanos, no horizonte dos valores democráticos. Ainda que possamos compreender que todo conhecimento implica em poder, este deve ser traduzido, melhor, ocupado para servir, com audácia, aos bens civilizatórios das instituições, pessoas e da humanidade. E combinando com a sabedoria, essa com assente nas responsabilidades éticas, políticas e sociais à eliminação das enfermidades, por que ainda adoecem e matam as reais condições necessárias para uma vida plena, feliz e amorosa? Nesse ínterim, destacam-se então a mentira, a arrogância, truculência, ironia, desrespeito, entre outras moléstias advindas da erudita pseudo scientia .   A mentira é o pecado que pavimenta todos os demais pecados da modernidade, como nos afirma o filósofo e neurocientista norte-americano Sam Harris, em seu livro Lying ( Me

Paulo Freire, Patrono da Humanidade

Paulo Freire dispensa apresentação para os brasileiros e milhares de instituições e educadores de todo o mundo. Quem de nós, de qualquer profissão, sobretudo os professores, educadores, que ainda não leu sua obra mãe, a “Pedagogia do Oprimido”? Nela, alicerçou as ideias fundantes de uma outra pedagogia, de uma nova escola, declaradamente politizada. Assim, confessou ser a conscientização de mulheres e homens, o desígnio maior do ato de educar, dentro ou fora dos muros das escolas. Do mesmo modo, nos fez entender que o compromisso maior de um educador é ensinar o aluno a “ler o mundo”, e, nessa crítica atitude, compreender seu lugar e as condições reais em poder pensar, como sujeitos autônomos, livres e agentes dos seus próprios destinos, a transformação da vida social e política.  Na primeira metade da década de 20, do século passado, Freire, pernambucano, filho do Nordeste, homem do mundo, teve o privilégio de se alfabetizar numa escola de portas abertas. Ali, no quintal de sua