2018 – esperança de cicatrizarmos as feridas ainda abertas de 2017.
De ontem, porque seguiremos tomando ATITUDES, posicionadas no
PRESENTE, à construção do Desenvolvimento Humano Integral no FUTURO.
Desenvolvimento que passa, necessariamente, pelo nosso ADEUS a toda e qualquer
forma, sinais e sintomas de doenças que trazem implicações na produção social
da saúde.
Ali, esses homicídios são naturalizados. Ou encurtam o caminho,
ampliando as faces da violência com propostas e ações de redução da idade
penal, truculência policial, encarceramento em massa e gritos bárbaros:
“bandido bom é bandido morto”. A miopia e a surdez do Estado brasileiro
confirmam sua omissão de aberturas de janelas de oportunidades à uma educação
pública, gratuita, inclusiva e de qualidade. Essa sim, redutora da crise
civilizatória que condena as negras e negros a reviverem, cotidianamente, o
triste legado histórico de discriminação da cor de sua pele e das pedras
incontáveis de suas vidas. E por onde anda o Estado guardião de vidas humanas?
Como falar de Saúde, se 2017 foi o ano que reforçou a intenção
do Estado em transferir a responsabilidade ao mercado de “ofertar” moradias às
famílias de baixa renda. Ou seja, fortalece o clássico modelo de política
pública de habitação baseado na promoção do mercado e do crédito habitacional
para a aquisição da casa própria. É a hegemonia da “...propriedade individual
escriturada e registrada em cartório sobre todas as demais formas de
relacionamento com o território habitado, que constitui um dos mecanismos
poderosos da máquina da exclusão territorial e de despossessão em marcha” [3].
Outrossim, moradia, hoje, é encarada como um ativo econômico,
não um direito. Esse drama é retratado nas telas dos cinemas. O filme Era
O Hotel Cambridge [4], revela o cotidiano dos passos atrás que os
governos vem dando, em não assegurar condições dignas de moradia,
tanto em relação ao espaço físico, quanto ao assentamento legal. Desse modo,
resistem os moradores da ocupação Aqualtune[5]
do Bairro Planalto, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, aquele que fez
Caetano Veloso nos lembrar: "Ser impedido de cantar não é bom. Mais do que
nunca é preciso cantar”, como diz a música de Vinícius de Moraes (Marcha de
Quarta-feira de Cinzas) [6].
E o que dizer do Sol Nascente, considerada a maior favela da América Latina [7].
Está bem ali, no centro de decisão dos poderes da República, nos lembraram os jovens
estudantes quando lideraram um movimento à construção de moradia para aquelas
famílias que se somam a muitas Brasil a fora.
Assim, como nos lembra Guilherme Boulos: “No Brasil, o direito à
propriedade não é absoluto. A Constituição Federal assegura o direito à
propriedade privada desde que cumpra uma função social. Ou seja, os imóveis que
se encontram permanentemente desocupados não cumprem nenhuma função social,
logo, são “ilegais”. Ah! Para não esquecermos, há mais de 7,2 milhões de
imóveis sem função social enquanto o déficit habitacional atinge quase 1/3 da
população brasileira.
Como falar em Saúde, se o ano que se foi teimou em não garantir
alimentos suficientes, seguros, adequados e saudáveis na mesa de centenas de
milhares de famílias nos mais diferentes recantos do nosso país. Melhor, ao
lado da UnB, ali na L4,..., enquanto isso, os recursos alimentícios estão
frequentemente expostos à especulação, que os encara somente em função dos
ganhos econômicos dos grandes produtores ou das estimativas de consumo.
O Papa Francisco, na sede da agência das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), e diante dos ministros da agricultura do
G-7, pediu: “Governos, deixem de lado os discursos vazios e atuem imediatamente
contra as causas da falta de acesso de centenas de milhões de pessoas aos
alimentos [...]”. Estas famílias, apropriadas de suas terras, para além da
agricultura, teriam melhores condições de “evitar que a fome se torne uma
doença incurável”.
Como falar de Saúde, se em 2017 persistiu o desemprego, a
concentração de renda e a diferença de salários entre homens e mulheres. Entre
negras(os) e brancas(os). Adicionados à situação de trabalho precário e de
natureza vulnerável, (empregados sem carteira, trabalhadores domésticos,
terceirizados) para citar alguns que rumam, cada vez mais, para o
aprofundamento das desigualdades socioeconômicas, nos limitando o acesso ao
lazer, cultura e outros que compõem o quadro do conceito ampliado de Saúde.
E assim 2017 virou a página, ainda com muitas feridas abertas.
Violência, crianças desmaiando nas escolas, torneiras vazias, mortes por
doenças evitáveis, degradações ambientais, comércio de lixos hospitalares, falácias,
invasões e desrespeitos entre os dirigentes políticos. Negligência, passividade
ou pequinês civilizatória na Cidade da Esperança?
2018, PRESENTE! Que os valores e princípios da Reforma Sanitária nos sirvam de
guia, sem medo de irmos às raízes dos seus determinantes, onde as pessoas
compreendam a grandeza de sua complexidade. Sem os quais teremos apenas
discursos efêmeros e sofismas linguísticos à justificativa das inações.
[2] Informações
provenientes do "mapa do terrorismo", fruto de uma parceria entre a
Esri Story Maps e a PeaceTech Lab (ver: https://storymaps.esri.com/stories/terrorist-attacks/?year=2017).
No número citado já se incluiu as 22 vítimas do ataque no show da Ariana
Grande em Manchester em 22/05/2017.
[4] Recentemente
a vida de uma ocupação foi retratada nos cinemas. Em outubro de 2016 esteve em
cartaz em algumas salas o filme Era O Hotel Cambridge. O
drama, dirigido por Eliane Caffé, transmite ao público o cotidiano da ocupação
Hotel Cambridge, localizada no centro de São Paulo, iniciada em 2012.
[6] Esse
fato é descrito com mais detalhes no livro ‘’ Por Que Ocupamos? Uma
Introdução À Luta dos Sem-Teto’’, escrito por Guilherme Boulos, líder do
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto e membro da Frente Povo Sem Medo.
[7] "O sol nasceu para todos" documentário produzido
pelo jornalista Davidson
Pereira, dirigido por Alan
Mano K.
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