Paulo Freire, Patrono da Humanidade
Paulo Freire dispensa
apresentação para os brasileiros e milhares de instituições e educadores de
todo o mundo. Quem de nós, de qualquer profissão, sobretudo os professores,
educadores, que ainda não leu sua obra mãe, a “Pedagogia do Oprimido”? Nela,
alicerçou as ideias fundantes de uma outra pedagogia, de uma nova escola, declaradamente
politizada. Assim, confessou ser a conscientização de mulheres e homens, o desígnio
maior do ato de educar, dentro ou fora dos muros das escolas.
Do mesmo modo, nos fez entender
que o compromisso maior de um educador é ensinar o aluno a “ler o mundo”, e,
nessa crítica atitude, compreender seu lugar e as condições reais em poder pensar,
como sujeitos autônomos, livres e agentes dos seus próprios destinos, a
transformação da vida social e política.
Na primeira metade da década de
20, do século passado, Freire, pernambucano, filho do Nordeste, homem do mundo,
teve o privilégio de se alfabetizar numa escola de portas abertas. Ali, no
quintal de sua casa, entre as árvores e seus pequenos galhos, escreveu as
primeiras letras, mediadas pela ternura e amor de sua mãe.
Certamente, essas foram as raízes,
os troncos do que mais tarde, nos anos 60, viria a chamar de método de
alfabetização de adultos, onde a valorização da cultura de um povo era o
fermento aos processos de conscientização coletiva, de ações e práticas políticas
rumo à liberdade.
Portanto nos alertava de que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não
aprendem sozinhas. “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” (FREIRE, p. 1987, p. 16)[1]. O
método já chancelado com o seu nome, se espalhava como uma mina de ouro a
iluminar as mentes dos adultos que o Estado e seus governos deixavam à beira da
estrada. E, por essa razão, em pleno regime militar, foi
considerado uma ameaça à ordem. Perde o Brasil e ganha o mundo.
Desse modo, faz-se necessário explicar a jovem estudante de Direito,
Stefanny Papaiano,
autora da proposta, que deseja revogar a Lei que outorga a Freire o título de
Patrono da Educação Brasileira que, se hoje sua geração tem a liberdade de ir e
vir e poder passar o dia circulando em redes sociais, foi porque centenas de
pessoas foram mortas, vítimas da ditadura militar, e, até o presente, suas
famílias choram pelos que desapareceram. Paulo Freire, e tantos outros, foram
retirados a força do seu pais para sobreviver em outras nações.
Minha geração teve o privilégio de ler o maior filósofo da
Educação Brasileira, porque, ao se exilar no Chile e na Suíça, conseguiu revisitar
e editar, primeiramente, em inglês e espanhol, o
manuscrito de sua principal obra, a qual referi-me anteriormente. Obra que só
pode ser publicada em nossa língua no final dos anos 70, após o retorno
de Paulo Freire ao Brasil por conquista da Lei da Anistia, resultante das lutas
da geração que me antecedeu. A conquista de uma educação democrática e
inclusiva deve ser cuidada com muito zelo pelas futuras gerações, incluindo a
sua.
Stefanny é paulista, coordena o
movimento da Direita São Paulo, e é ativista da associação
criada em 2015, por Miguel Nagib, procurador do Estado de São Paulo para defesa
do Projeto “Escola Sem Partidos”. Ombro a ombro com o deputado federal Eduardo
Bolsonaro, em uma audiência pública na Câmara Federal, revelava com certo
orgulho de que não conhecia, nunca tinha lido e nunca leria Paulo Freire.
Seguramente, São Paulo, é maior que esses personagens. Lá
tem Luiza Erundina, que quando Prefeita (1989-1990) da cidade mais populosa do
Brasil, do Continente Americano, da lusofonia e de todo o hemisfério, escolheu
Paulo Freire para exercer o cargo de Secretário Municipal da Educação, onde
realizou um admirável trabalho.
Não foi somente por essa razão
que a Deputada propôs o Projeto de Lei (PL 12.612/2012) concedendo o título a Paulo
Freire de PATRONO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. Certamente, por ter compreendido
assim, como muito de nós, a Pedagogia da Esperança e o significado de uma
educação democrática.
E mais, do sentido da desumanização causada pelo opressor a seus oprimidos “[...]
desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua humanidade roubada,
mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da
vocação do ser mais”. (FREIRE, p. 1987, p. 16).
Assim me somo aos
educadores do meu pais, lado a lado, pela justa defesa do seu título, porque
não estamos lutando somente por um homem reconhecido no mundo e no Brasil, se
não pelo andarilho da utopia de uma educação emancipadora. Por isso, Mestres,
perdoem Stefanny, e àqueles que pensam como ela. Eles ainda são sabem o que fazem.
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