Em minha Ceia de Natal…
Imaginei que algumas presenças de convidadas e
convidados seriam indispensáveis. Certamente nos instigariam a refletir sobre
suas ideias entre rodas de conversas. Por lá esteve Caio Fernando Abreu nos lembrando
a não desistir de viver plenamente pois viver era, para ele, um constante
construir, não derrubar…recomeçar, ainda que dolorosamente… por vezes com
perdas.
Ao seu lado, estava sentada Elizabeth Bishop nos ensinando
a compreender nossas perdas, pois, além de duas cidades lindas, ela perdeu um
império, dois rios, e mais um continente. Tudo isso pela liberdade de amar.
Também em nome do amor, Oscar Wilde nos provocava em dizer que o este não ousa
dizer o nome, enquanto Federico García Lorca dizia que o mais terrível dos
sentimentos era o sentimento de ter a esperança perdida.
“Há mais do que uma sabedoria, e todas elas são
necessárias ao mundo”, comentou Marguerite Yourcenar; para Shakespeare, ser
grande, seria abraçar uma grande causa. Jean Genet, à mesa, disse em voz alta
que a existência não cabia numa balança ou entre os ponteiros de um compasso, o
que motivou Edmund White a refletir sobre não ter medo do amanhã porque já vira
o passado e amava o dia de hoje.
“Se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar
menos, é sonhar mais”, nos alertou Marcel Proust. Lembrou-nos James Baldwin que
“nem tudo o que enfrentamos pode ser mudado. Mas nada pode ser mudado enquanto
não for enfrentado”. Assim, filosofou Santo Agostinho ao mencionar que o orgulho
não era grandeza, mas inchaço. “E o que está inchado parece grande, mas não é
sadio”.
“Quando já não me indignar, terei começado a
envelhecer”, destacou André Gide, interpelado por Tomas Mann que nos revelou à
mesa que há pessoas as quais não é fácil conviver, mas que jamais podemos
abandonar. Por isso, amigos e amigas, Alice Walker complementou que “não poderia
ser seu amigo quem exigisse seu silêncio ou atrapalhasse seu crescimento”.
Walt Whitman afirmou que “era contraditório, e era imenso,
pois havia multidões dentro de si”, enquanto José Lins do Rego nos alertava
“Se chove, tenho saudades do sol, se faz calor, tenho saudades da chuva.” E
assim nos despedimos após uma complexa ceia natalina.
Que em 2018 possamos assumir firmemente o compromisso de
reafirmarmos os valores civilizatórios. Para isso, faz-se necessário “lermos”
alguns sinais:
- não temermos a utopia concreta do socialismo com liberdade;
- não nos deixarmos “domar” pelo capitalismo latente 24 horas por dia;
- não cedermos ao medo como inibidor à construção dos sonhos;
- precisamos aguar as flores que teimam em murchar, acalentando a esperança por novos e necessários tempos;
- que nossas reflexões teóricas sejam o fermento fundante de uma sociedade libertadora;
- aprofundarmos os valores democráticos e suas conquistas, numa ciranda viva, onde não tenhamos nenhum passo atrás;
- nenhuma concessão aos princípios da ética na política;
- não temermos a convivência intergeracional e suas mais diversas formas de expressão;
- é chegada a hora de iluminarmos as sombras, pois o sol, voltará a brilhar.
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